Na Lista Telefônica Listel: Disk-Piadas 137, Disk Amizade 144, Disk Horóscopo 134
Quando eu era criança, pequena, lá na Itaoca, no beco, da rua Júlio Verne, 548, eu era filha única e primeira neta, antes do Hedilberto Hermes, cinco anos, depois chegar, e o José Barroso Aguiar Neto chegar, 10 anos, adiante, que, alíás, eu quem seria o José Barroso Aguair Neto, como primogênita. Eu poderia me chamar Josefina, já que nasci mulher, mas poderiam continuar honrando a continuação, do nome, do clã, da família Barroso, sem interrupções, de maneira honrada e legítima. Sou até uma Borroquinha, adepta da escola literária do Barroco. Reinei, caçulinha, por muito tempo. Eu lia, quase tudo. As bulas dos remédios, os livros de receitas, do pratos quentes e, frios, canjica, mucunzá, bolo Manzape, bolos diversos, tortas, doces, aos salgados e bebidas. Todas as enciclopédias, coleções do Machado de Assis, Monteiro Lobato, José de Alencar, Contos Árabes, Contos Africanos, Histórias do Wall Disney, Meu livro de Histórias Bíblicas. Coleção de doze livros, em inglês britânico, antigo, que meu pai possuía, na estante da sala, os quais eu preenchia as lacunas e livretos de exercícios com espirais nas capas, que mais pareciam impressões digitais de um polegar, em 4 ou 5 cores. Para compreender melhor, ouvia as fitas k-7 da coleção, que mais parecia uma voz satânica, aquela voz impostada de homem anglo-saxônico. Intercalando com os discos das histórias dos discos de contos de fadas e dos Patinhos, um amarelinho, que faziam uma paródia, até de uma música, do Serginho Malandro, do programa do SBT, que era assim: "Vem meu amor, vem fazer glu-glu-u-u, mon amour...Glu para mim, glu-glu para mim, glu-glu para tu, vem, meu amor, I love you, Oh yeh, uuu, mon amour, vem meu amor, vem meu chuchu, vem com jeitinho fazer gluglu, oh yeh, glu-glu-uuu-mon amour!". Além disso, aguava o jardim, com minha avó ou minha madrinha e era o brinquedo do cão dos meus tios, que eles chamavam de cavalinho-do cão-que-vai-e-vem. Eles ficavam mandando recados uns para os outros por mim, como se eu fosse um mensageriro, emissário, arauto. Depois, eu recebia o salário. O que recebia o último desaforo, desabafo, mandava eu avisar, ao emissor, da mensagem, dar bosta ao cavalinho-do- cão-que-vai-e-vem. Então, quando os meus tios cansavam de me fazer de telefone-sem-fio, eu ligava, no telefone da sala, que tinha um véu sintético embaixo, como se fosse um tecido de crochet, colocava na cabeça, como se fosse à missa de domingo e ligava para o número 137, o Disk-Piadas, usualmente, as anedotas eram do Mário Tupinambá e já vinham com a claque, as próprias gargalhadas, para incentivar a rirmos no embalo da piada e do riso eletrônico. Depois, eu ligava para o 144, o Disk-amizade, mas quem atendia, sempre era um rapaz adulto, que quando percebia que minha voz era de uma criança, explicava que o serviço era para adultos, maiores de 18 anos, e que, eu não poderia estar ligando para aqueles dígitos. Eu me resignava, me conformava na minha condição de criança e ia brincar com os cupons da lista telefônica novamente ou ler, o rótulo, do Shampoo Jhonson, aquele amarelinho, e do Aquamarine, do Leite de Magnésia, da latinha de Vick. Meu pai tinha um daqueles móveis, que já fora o móvel da radiola, e servia de bar, de sua coleção de bebidas, e um conjunto de copos para wisk, cinza, fumê, Cisper ou Nadir Figueredo, além dum relógio-de-parede, com moldura de cerejeira e grandes dígitos, sem-serifa, que minha mãe trocou, num carnê, de mercadorias, herdado, incompleto, da dona Alzira, minha avó, sua mãe, comparado nas lojas do Baú da Felicidade, rua General Sampaio, Centro de Fortaleza. Minha indgnação, era porque, o rótulo da Vodka Orlof, com especialidade, a que, uma vez, veio com um pote de mel, como brinde, era difícil de decifrar, também ler uma cachaça, ou a Campari, que têm aquele rótulo, por dentro, do líquido, em suas apresentações diversas. Desde, um garrafão de vinho, de cinco litros, ao, convencionado, celular, portátil, que parece que chama, com seus quinhentos mililitros, o prático, que resolve, meio-litro.
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