Mãos mágicas

Quando eu era criança, gostava de assistir, na TV cultura, TVC, TV Ceará, o programa infantil, Mãos Mágicas. "Mãos mágicas, mãos mágicas, entram no ar novamente, trazendo mil manias, brincadeiras novas pra gente!" Fazíamos brinquedos com sucata. Bonecos com dois copinos de Danoninho, da Nestlé, colados. Ou recortávamos os fundos e fazíamos óculos de coração, ou simplesmente corações para presentear os amigos, quer colocássemos os olhinhos, a boquinha, bracinhos e perninhas ou não. Já fazíamos o coração com as mãos. Eram maneiras de reutilizar material, geralmente, descartado por nossos pais, como copinos de iogurte, palitos de picolé, papel, plásticos de margarina, tampinhas de refrigerante, canudinhos, algodão, arame. Eu fazia uma cobrinha com vários copinhos descartáveis de 100ml, para água. Utilizava cola e canetinha hidracor para fazer os olhinhos e a boquinha. Nem colocava a linguinha mesmo. Acho que assim, nunvou chegar no mármore do inferno. E fazia um cinema com caixa de papelão, de sapatos. Eu recortava o fundo da caixa e substituía por papel manteiga, aquele que vem entre as folhas dos cadernos de desenho, as folhas mais fininhas e transparentes. Então eu fazia uns personagens, gatinhos, cachorrinhos, peixinhos, que por dentro da caixa, com a juda de uma lanterna da china ou japão, do meu irmão, daquelas que sempre queimam o foquito, inclusive já vendem o foquito sobresalente. Estava pronto o meu cinema particular. Embora o que a minha mãe chamasse de cinema fosse quando passávamos pelo centro da cidade ou por uma pracinha e havia um casal de namorados, homem e mulher, se beijando publicamente. Eu olhava e dizia: "Olha, mãe: cinema!" Ela concordava. Fora de casa, beijo é para chamar atenção, como uma novela, um filme.

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